Aí você conhece uma pessoa que parece
incrível. Vocês conversam sobre tudo, fazem todos os passeios
imagináveis, viram madrugadas em confissões e gargalhadas e têm uma
química nunca antes vista na história da humanidade. Tudo parece
perfeito, até que aquela pessoa começa a sumir, deixando você sem
entender o que aconteceu. Você tenta respeitar o espaço, deixa a pessoa
respirar, até que um dia, por não entender o que teria acontecido de
errado, você chega com a pessoa e pergunta o que houve. E aí ela diz que
não tem como continuar porque não quer se envolver.
Você
acha aquilo estranho: afinal, se não queria se envolver, então por que
dizia que era uma sorte grande ter te encontrado? Se não queria se
apegar, então por que dava bom dia todo santo dia? E por que se
preocupava em ser uma pessoa tão carinhosa mesmo tanto tempo depois de
as primeiras transas terem acontecido? Nada disso faz sentido, não é
mesmo?
Você fica sem entender o que
aconteceu, vai investigando, até que a pessoa diz ou que teve um/uma ex
que deixou traumas ou que gosta muito de um outro alguém, mas esse
alguém não sente o mesmo por ela.
Nessa
hora, você pode se sentir como se não fosse uma pessoa boa o suficiente
para fazer com que esse alguém que você gosta deixe para trás os
traumas e o passado. Você pode sentir um forte sentimento de rejeição,
capaz de abalar até a mais inabalável das seguranças. Mas de uma coisa
você precisa ter a mais absoluta certeza: tudo isso não é problema seu.
Você não tem culpa se a pessoa que você gosta é uma das milhares de
pessoas que se sabotam.
Se o outro
prefere ficar se sabotando, é problema dele. Se ele não quer se permitir
viver uma experiência que seria completamente diferente de tudo o que
ele já viveu antes, é problema dele. Você não tem nenhuma culpa ou
responsabilidade pelas escolhas das outras pessoas, independentemente de
quais sejam elas.
Infelizmente,
vivemos em uma geração de pessoas covardes, que se envolvem, mas depois
ficam afastando os envolvimentos porque preferem ficar se escondendo
atrás dos seus traumas. Eu já fiz isso, você também já deve ter feito. E
sabe por que tanta gente faz isso? Porque é mais fácil ficar em uma
zona de conforto de auto-piedade, reclamando que os traumas deixaram
marcas ou dizendo “Ninguém me ama, ninguém me quer”. Mas tudo isso não é
problema seu, amig@: é problema da pessoa. É problema dela se ela só se
permite se apegar a sentimentos tão pequenos de mágoa, rancor, egoísmo e
pena de si mesma.
Todos nós somos
imperfeitos, mas nem as suas piores imperfeições justificam que alguém
faça isso com você: se envolva, te trate como se fosse ser algo para
valer e depois decida ir embora sem dar explicações. Mas, se essa pessoa
quer sair da sua vida, deixe que ela vá embora. Você não merece alguém
tão covarde.
Do outro lado da mesa
Agora,
se você que está aí do outro lado se identifica com o perfil do
covarde, pense no que você está fazendo com a sua própria vida. As
pessoas são diferentes. O trauma que você teve com uma não
necessariamente vai se repetir com outra. Cada um é de um jeito, e,
consequentemente, as experiências que você terá com cada pessoa serão
diferentes. Pense em todas as pessoas legais que você deixou passar pela
sua vida por esse medo de se envolver. Até quando você vai ficar se
sabotando por puro medo?
Eu sei que
ninguém está dentro de você para saber o que você está sentindo. Ninguém
está aí dentro para saber o quanto aquela rejeição te doeu e você tem
todo o direito de sofrer o quanto achar que tem que sofrer. Mas pense
comigo: se você não está preparad@ para se envolver, então não prolongue
as coisas. Não tenha atitudes que deem brechas para que o outro crie
expectativas. Quer beijar? Beije, mas deixe claro que você só quer o
beijo. Quer transar? Transe, mas seja sincer@ e diga que você só quer
isso. Quer só uma companhia para não se sentir sozinh@? Ok, todo mundo
tem suas carências, mas deixe tudo bem claro para a outra pessoa. Será
uma escolha dela se ela decidir ficar com você mesmo nessas condições.
Mas ela precisa saber o que, de fato, está acontecendo.
O
problema não é você viver o seu luto, mas sim iludir a pessoa e sumir
do nada, sem dar nenhuma explicação, fazendo com que ela pense que o
problema é com ela, que ela fez algo de errado. Seja uma pessoa adulta o
suficiente para assumir as consequências dos seus atos.
Inclusive
a de talvez, daqui a algum tempo, estar aí se remoendo porque não
deixou que a Júlia ou o João entrassem para valer na sua vida e te
mostrassem que o presente e o futuro podem ser completamente diferentes
do passado.
- Ana Paula Souza.