sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

- O Medo do Amor.

 Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê.
O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente porque de repente uma terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade.

E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro.

Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos.

Que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, fingindo um pouco de resistência mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo.


- Martha Medeiros.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

- Dói Amar Você...

  Eu sei que sempre vai doer olhar pra você.
Eu sei que vai doer às vezes, ter vontade de voltar no tempo e mais uma vez reviver ao seu lado todos os nossos momentos.
Eu sei que vai doer me conter, não mais dizer que amo você.
Eu sei que vai doer não te dar os parabéns no seu aniversário, não receber o teu “abraço de presente” no meu, quando o que mais vou querer de presente é você. Fingir que tá tudo bem em pouco tempo, que tá tudo numa boa. Vai doer.
Eu sei que vai doer,você sabe que vai, nós sabemos, eles sabem.
É, todos sabem. Eles diziam que nós tínhamos “algo especial”. E nós, de fato, tínhamos. Tivemos.
E eu sei que vai doer sempre que eu pensar em você.
Vai doer te olhar nos olhos ao longe e lembrar tudo o que vivemos.
Eu sei que vai doer.
Mas eles dizem que eu preciso seguir em frente.
Eu nem queria, mas parece que você tá tentando, então eu vou tentar também.
Mas eu sei que vai doer não poder ligar pra você.
Eu sei que vai doer inúmeras madrugadas sem “boa noite”, sem um "eu te amo" antes de pegar no sono.
Talvez, às vezes, eu até tente te ligar por engano.
“Eu quero saber o que está acontecendo com você...”
Porra, vai doer.
Eu sei que sempre vai doer.
  Eu não queria isso pra gente.
Mesmo tendo tudo contra nós, eu só esperava um pouco mais de você, sabe? Onde ficou aquele “para sempre”?
É, talvez não tenhamos insistido o suficiente.
Talvez pudesse ter dado certo.
Mas parece que, na vida, às vezes nós não temos escolha.
Parece que enquanto você tenta escrever sua história perfeita, a ponta do lápis quebra, você erra, invade algumas linhas abaixo e tenta consertar. Com uma borracha, tenta apagar aqueles riscos que deveriam ser palavras, mas acaba rasgando a folha e borrando tudo.
A vida é cheia de surpresas desagradáveis. E nós rasgamos nossa folha, borramos nossa história.
E isso sempre vai doer. Não tem essa de esquecer. Jamais alguém conseguiu esquecer. Não se esquece dum amor perdido, mas se aprende a viver com a dor que ele causa, que ele causou. Alguns até dizem que é possível gostar dessa dor com o tempo. Eu sei, parece insano. Mas o amor é um lugar sem saída. Não oferece muitas opções. Acredite em mim, quando é verdadeiro você não esquece. Eu não esqueci. Apenas aceitei que perdi, e isso talvez seja o suficiente. 
  Eu aprendi a guardá-lo num canto do peito cercado por uma parede de vidro blindada, que é pra eu poder olhar de vez em quando e lembrar o quão imaturo já fui, lembrar o que aprendi com você. Lembrar que não, não foi perda de tempo ter ficado ao seu lado, mas fez parte do aprendizado. E se der saudade, a blindagem, que é à prova de todos os meus sentimentos, não vai me deixar voltar atrás.
Vai doer, acredite.
Eu sei que sempre vai doer.  Mas um dia, eu sei que vai doer pouquinho, sabe? Depois de um tempo, vai ser só de vez em quando.  Eu sei que vou aprender. 
Mas saiba: Dói amar você.




- Allison Christian

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

- Chegou dezembro...


Chegou dezembro.
E, mais uma vez, passou voando sem dar a chance de olhar para trás com um gosto ácido de saudade. Com ele, vem o congestionamento nas ruas e nas lojas, as filas que não param de crescer, as pessoas que aproveitam esse período para mostrar exatamente quem são. É na hora do cansaço de uma fila sem fim, do calor que embola o estômago e da falta de ar que não dá trégua que a gente percebe que nem todo mundo tem educação.

Chegou dezembro.
Um mês esperado por muitos e detestado por outros tantos. Uma época de comemorações, de uma mistura de solidariedade com exibicionismo, um período voltado para o consumismo e para as extravagâncias e orgias gastronômicas.

Chegou dezembro.
Este mês traz dentro do saco do Papai Noel um universo de pedidos, promessas, reflexões e anseios. É o momento das listas, do balanço, da verdade, da conversa séria, da decisão, da vontade de melhorar, da decepção em constatar que nem tudo saiu conforme o planejado naquele outro dezembro que já deu adeus há muito tempo.

Chegou dezembro.
Ele traz na mala aquela saudade de quem já partiu, das amizades desfeitas, dos amores que se foram, da família que mora longe, de quem mudou de estado, país ou cidade.

Dezembro traz a certeza de que a esperança ainda existe, sim. E sempre existirá. Esperança que renasce e se torna mais forte com a chegada de um novo ano. Esperança que traz a oportunidade de fazer coisas novas, de um jeito novo, com um novo olhar e uma nova forma de sentir e viver tudo que ainda há para viver.
- Clarissa Corrêa.