Você chegou, era fim de verão. Em meu
peito, em minha história, fragmentos de uma desilusão que cumpria aviso
prévio. O que enveredou o nosso começo, ainda que nunca além de nossas
paredes, foi o gosto refinado pelo impossível. Me pego avaliando a nós,
em busca das respostas que a convivência nunca nos trouxe e concluo:
fomos instantes. Se me dedicasse a escrever uma carta por dia,
endereçando a você, certamente notaria a complexa inconstância que nos
acompanha, clássica característica de nossos momentos. Fomos tantas
partidas, tantas chegadas. Fomos diversas vezes o sim, o não, o misto
desconhecido do sempre e do nunca.
Eu confesso que sempre preferi os
recomeços, que era quando mergulhados em uma saudade densa, nos
transformávamos naquilo em que deveríamos ser: compreensão, carinho e
fé! Mais uma vez, demos a nós mesmos outra pausa de mil compassos. Você
vítima dos seus desacertos, eu vítima de tanta impaciência. O último
ato, aquela última carta, o momento em que concluímos que o amor só
acontece quando não precisa mais ser segredo, quando podemos assumir
para nós mesmos o quanto sentimos e, se sentimos, por quem! O viés de
nossos caminhos, a lenta absorção que temos e nos permitimos da
felicidade, a hora de partir sempre precoce.
Confessando a mim mesma, levanto uma
alva bandeira pedindo paz. Sinto que o não diluir dessa questão é sempre
o que nos pega desprevenidos pelo caminho e nos traz de volta pra essa
casa devastada que não temos coragem de chamar de lar, mas que guarda em
seus armários tanto de nós, de nossas histórias, de nossos desejos pra
um futuro bom. Se sonho, quando sonho, levo você comigo e me pego
pensando que pelo menos dentro de mim, eu e você podemos gozar de paz,
da grande janela amarela e amor. É somente quando não somos reais, e
deixamos a necessidade de sermos tão ‘nós’ em indivíduo, que funcionamos
como par.
Eu e meus longos textos, você e seus belos cliques. Só nós e o melhor de nós.
Não presto pra lhe dizer adeus, oras.
Nunca prestei! Por isso, me rendo a um ‘até logo’, firme no propósito de
que o amor, dessa vez, pode arrebatar um de nós pelas trilhas da vida
e, com doçura, nos permitir ser pro outro, a inspiração pra dias ainda
melhores e mais plenos. Algo em mim não acredita nisso, como se já
pudesse prever os contornos e detalhes do próximo reencontro. Ainda
assim, encaminho o restante de mim crente pra novas histórias ciente de
que você, ainda que tão perfeito pra mim, não me cabe. É como se
escolhêssemos, dia após dia, a solidão!
É um grande prazer viver com você esses nossos tão intensos hiatos, mas é chegada a hora de seguir.
Que Deus proteja e enfeite de flores os seus caminhos, enquanto eu me desespero esperando notícias suas!
- Mayra Peretto.
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