quarta-feira, 23 de setembro de 2015

- Evapore...


Tem gente que chega na nossa vida para acrescentar, outras para experimentar, e existem aquelas que a gente não sabe como agradecer por ter sumido. É, você pode achar que é um texto amargo demais, mas aposto que você já quis agradecer alguém por ter sumido da sua vida.
Ele entrou para esse pequeno hall. O hall daqueles que eu não sei nem como agradecer por ter simplesmente ido embora. E mesmo deixando rastros, segui o caminho contrário com louvor. No começo doeu bastante, mas depois que passou o coração de tão vazio, transbordou. Deve ser por isso que é tão libertador deixar ir até onde a vista não alcança.
No começo do sumiço é natural querer saber o que aconteceu, o que você tem de errado, onde você pressionou demais, ou entregou de menos e obviamente jogar a culpa em quem menos tem: você. Amor, o problema não é você ou seus defeitos, muito menos o signo dele, o problema na verdade é ele todo.
 Sumir não te torna mais macho, moço! E fazer a linha: vou dar uma espiada nos snaps dela também não! Se é para evaporar igual água e sumir nesse mundão de vez, que vá! Sem essa frescura de voltar todas as vezes que tomar um não lá fora. Peça a bênção e vá com Deus. E olha, não me venha com papinhos ou likes perdidos em redes sociais. Você era até bem visto por aqui, mas o portão fechou e sinceramente, aquele encanto todo acabou.
A gente gosta de homem que joga a real, um sonoro e sincero “não” ao invés de ridículas reticências. Papo reto, jogo aberto sabe? O mundo modernizou. Ninguém mais precisa de uma reserva com tantos aplicativos com alvos dispostos a se envolver. É melhor ser sincero e se garantir com isso, do que simplesmente sumir e aparecer num domingo a noite qualquer. A gente sabe quem merece cafuné de domingo e café da manhã na segunda.
E tem mais, já passamos daquela fase de correr atrás de quem não quer valorizar aquilo que a gente tem de mais. Se é para ficar junto, que fique de vez. Se for para sumir, que vá sem vez. Melhor assim, com recado dado e coro sincero. Ninguém aguenta por muito tempo a ausência de quem nunca foi tão presente.

- Juliana Manzato.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

- Ela dizia 'adeus', ele entendia 'até logo'...


É de se duvidar que alguém acorde, numa manhã ensolarada, olhe para o lado e, repentinamente, resolva sair daquela vida, perceba que não ama mais quem dorme ao seu lado e levante-se para fazer as malas e partir. Geralmente, lutamos e persistimos em nossas escolhas, por muito tempo, pois queremos ter acertado, sempre. Assim é com tudo na vida, assim também é com os relacionamentos.
Até chegarmos ao ponto da exaustão emocional, ao vazio das forças para nos manter ao lado do parceiro, ao não ter mais como respirar, fomos dando vários indícios de que as coisas não estavam caminhando com serenidade. Palavras são ditas, questionamentos são postos, muitas lágrimas são vertidas, ou seja, muito se cobra e se acusa antes da dolorida constatação de que o amor acabou e é hora de partir. Com exceção da morte, tentamos reverter aquilo que nos desagrada, o que não está bom nem bem, o que incomoda. Por essa razão, as insatisfações para com o outro ao longo do relacionamento, se não são explicitadas, ao menos estão lá, presentes em pistas diárias, impressas nas atitudes, nas palavras, nos olhares, na frieza e, principalmente, no silêncio nosso ou de nosso parceiro - o silêncio diz mesmo muito.
Infelizmente, parece que dificultamos ainda mais o entendimento, quando mais precisamos, como que fugindo ao enfrentamento de fantasmas que muitas vezes nós próprios criamos e dimensionamos numa extensão muito maior do que a realidade dos fatos. Vários problemas seriam facilmente resolvidos apenas com a disposição de ouvir o outro, prestando atenção ao que o aflige e desagrada. Muito poderia ser evitado com atitudes simples de nossa parte, com pequenas mudanças, um pouco mais de entrega de si e com renúncias indolores. Falta-nos, da mesma forma, enxergarmos a nós mesmos com os olhos do outro, para que possamos entender o que ele vem ouvindo, vendo e recebendo de nós, para que compreendamos o raio de nossas ações às pessoas que nos rodeiam - ninguém é uma ilha.
A intolerância às frustrações costuma ser um dos mais fortes entraves à superação dos conflitos e problemas que assolam os relacionamentos. Costumamos idealizar o parceiro, supervalorizando suas qualidades e ignorando tudo dele que nos desagrada, pois nosso objetivo é ficar junto, é amar e ser amado, é construir uma vida ao lado de alguém. Tentamos não prestar atenção ao que nos incomoda nas atitudes de quem amamos, não queremos nos indispor e estragar os nossos dias, não queremos falhar em nossas escolhas, e muitas vezes nos agarramos à vã esperança de que o outro vá mudar. Mas ele raramente muda.
Ninguém muda, a não ser que esteja incomodado e o queira realmente. Mudamos muito mais por nós mesmos do que pelo outro - daí a necessidade de fazermos com que o parceiro saiba o que nele não nos agrada. Dependendo da importância que tivermos na vida de quem amamos e somente se ele entender que vale a pena, então tentará mudar. No mais, ninguém muda de uma hora para outra, seja porque casou, porque teve filho, porque perdeu o emprego. Quanto mais expectativas criarmos em relação ao outro, mais nos frustraremos e menos fortalecidos estaremos para buscarmos a felicidade junto de quem amamos.
Os relacionamentos terminam menos pelo fim do amor do que pela incomunicabilidade que a força esmagadora do cotidiano acirra dia após dia. Existem pessoas que se amam, sim, mas não estão mais juntas, pois perderam-se entre si a uma distância que neutraliza qualquer tipo de contato e interação, silenciando em seus corações a necessidade do outro. Não é somente a falta de amor que mina as relações, mas também não saber como lidar com as dores e desilusões que ele traz na retaguarda. Lançar-se ao encontro com o outro é sobretudo perigoso, pois teremos que estar dispostos a confrontar nossas verdades e mentiras com as de outra pessoa, de modo a ponderá-las e equilibrá-las por meio de aceitação e tolerância.
Infelizmente, muitos não estão dispostos a essa entrega, porque poucos estão prontos para encarar a si próprios bem de pertinho. No entanto, se - e somente se – ainda houver amor, dignidade e respeito, investir na manutenção de um relacionamento com quem se ama pode valer muito a pena, pois aninhar-se num colo aconchegante, ao final do dia, faz toda a diferença, renova nossas energias, tanto para desfrutarmos com mais serenidade os dias de sol, como para enfrentarmos com mais tenacidade as noites traiçoeiras que virão. 

- Marcel Camargo.