segunda-feira, 17 de setembro de 2012

- O Amor é...


O amor é procurar cabelos para completar as mãos, é procurar o que não se viveu para contar. 
É esperar o sol aquecer o lado ileso da cama.
É não apagar direito a ausência, a letra, o cheiro. 
É insistir com respostas sem as perguntas. 
Adiar o amor ainda é cumpri-lo. 
Fingir que não se sente é exercê-lo. 
O amor devora os sobreviventes. 
Não lembra do pente, da navalha, da tesoura de unhas, do jornal, do abajur. 
O amor não lembra do que precisa. 
Amor é não precisar de nada. 
É precisar do que acontece depois do nada, ainda que não aconteça. 
O amor confunde para se chegar ao mistério. 
Embaralha para não se ouvir. 
Perde-se no próprio amor a capacidade de amar. 
Amor é comer a fruta do chão. O chão da fruta. 
O amor queima os papéis, os compromissos, os telefones onde havia nomes. 
O amor não se demora em versos, se demora no assobio do que poderia ser um verso. 
O amor é uma amizade que não foi compreendida, uma lealdade que foi quebrada. 
O amor é um desencontro por dentro.

((Fabrício Carpinejar))

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